Prevenção com ácido fólico na gravidez é rara e incorreta no
Brasil
Por DÉBORA
MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE
DE "CIÊNCIA + SAÚDE" - Jornal “Folha de São Paulo
Uma medida simples para evitar
malformações em bebês ainda é pouco adotada pelas brasileiras e será tema de
campanha nacional com lançamento marcado para hoje em São Paulo.
Um levantamento com 500 mulheres realizado
pelo médico Eduardo Borges da Fonseca, professor de obstetrícia da Universidade
Federal da Paraíba, mostra que só 13,8% tomaram suplemento de ácido fólico
antes de engravidar.
O uso dessa
vitamina ao menos 30 dias antes do início da gestação, continuando até o
terceiro mês, reduz em cerca de 75% a ocorrência dos defeitos de fechamento do
tubo neural (a região do embrião que vai dar origem ao sistema nervoso
central).
Hoje, 1 em 1.000 crianças
nasce com algum desses problemas no país.
Os mais comuns são espinha bífida
(exposição dos nervos da medula espinhal) e anencefalia.
A anencefalia leva à morte do bebê. No caso da
espinha bífida, a gravidade varia conforme a posição da lesão e a extensão.
Algumas crianças não precisam de tratamento e outras podem ser submetidas a
cirurgia logo após o parto.
Mas muitas, mesmo após a operação, sofrem sequelas,
como paralisia e dificuldades de aprendizagem. No estudo, feito em João Pessoa, a maioria das
que usaram o ácido fólico o fez de forma incorreta, muitas vezes com doses
maiores dos que as ideais (de 400 microgramas por dia). Estudos com animais
apontam que a suplementação em excesso pode levar a bebês com baixo peso.
Cerca de metade da amostra era de
mulheres atendidas pelo SUS e a outra metade, de clínicas particulares.
"Não houve diferença entre os grupos", afirma Fonseca, que é
presidente da comissão de medicina fetal da Febrasgo (Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia). "Os números que nós encontramos são muito
semelhantes aos de um estudo feito em Pelotas (RS) há seis anos. A situação não
melhorou desde então."
O fechamento do tubo neural
acontece entre a 2ª e a 4ª semana de gravidez.
No Brasil, segundo
pesquisa da Fiocruz com 22 mil mulheres, 55% das gestações não são planejadas.
"Em geral, a mulher só chega ao médico de 02 a 03 meses depois do início da gravidez, o que já é uma fase tardia para
o início da suplementação", afirma o médico.
Por isso, um dos focos da
campanha da Febrasgo é estimular médicos a informar as mulheres sobre a
importância do suplemento durante as consultas anuais.
A fortificação de farinhas de
trigo e de milho com ácido fólico, obrigatória no Brasil desde 2004, consegue
reduzir em 39% a ocorrência das malformações.
"Mas essa medida não atinge
a todas. Muitas mulheres hoje adotam dietas da proteína, com baixa ingestão de
carboidrato. Por isso é melhor usar as duas formas de prevenção: a alimentação
fortificada e a suplementação."