sexta-feira, 13 de setembro de 2013

GRANDE AVANÇO: TERAPIA CELULAR PARA FISSURA LABIAL



Pesquisa brasileira pioneira obtém ossos a partir de células-tronco isoladas de músculo da boca.

O Brasil obteve mais um grande avanço na área de terapias celulares.
Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) conseguiram, pela primeira vez no mundo, produzir ossos a partir de células-tronco isoladas do músculo do lábio.

A técnica poderá ser usada para o tratamento menos invasivo de deformidades no crânio e rosto, como o lábio leporino – fissura no lábio.

O uso de células-tronco para gerar ossos usados no tratamento de lábio leporino não é novidade entre cientistas norte-americanos.
No entanto, o procedimento adotado por eles é doloroso: são retiradas células da medula óssea por meio de agulhadas na região da bacia do paciente. 

A nova técnica, desenvolvida pela Cirurgiã Dentista, Dra. DANIELA FRANCO BUENO (da Diretoria da ABFP), sob a coordenação da bióloga Maria Rita Passos, ambas do Centro de Estudos do Genoma Humano da USP, tem por objetivo facilitar o procedimento e reduzir ao mínimo a dor do paciente.

Durante sua pesquisa de doutorado na USP, Bueno acompanhou cerca de 120 bebês, entre três e quatro meses de vida, que se submeteram a cirurgias de reparação de lábio leporino no Hospital Sobrapar, em Campinas (SP).

Com a autorização dos pais, foi retirado um pedaço do músculo do lábio das crianças, que normalmente é descartado durante a cirurgia. As células-tronco do músculo foram então isoladas e submetidas a um processo de diferenciação em laboratório e, em 21 dias, originaram células ósseas.

Em uma segunda fase, as células-tronco foram implantadas em orifícios feitos no crânio de ratos sobre um suporte composto de colágeno moldado para preencher a fissura.               

O resultado foi positivo: As células humanas se diferenciaram, se multiplicaram e geraram tecido ósseo.

“Ao implantarmos as células-tronco indiferenciadas associadas ao suporte de colágeno no orifício, o próprio corpo sinaliza para que elas virem osso”, explica Dra. Daniela.

A descoberta será uma alternativa menos invasiva.
No tratamento tradicional, são necessárias três intervenções cirúrgicas:               
A 1ª, feita aos 03 meses de vida, e a 2ª, aos 12 meses, apenas reparam a fissura do lábio e o palato (céu da boca), respectivamente.
Já na última, realizada quando o paciente tem entre 08 e 12 anos, é preciso retirar fragmentos de osso da bacia para serem enxertados no rosto.
Com a terapia celular, não será necessário fazer o enxerto e a criança receberá apenas o implante de células-tronco, armazenadas desde a época da 1ª cirurgia.

“Ao conseguirmos isolar as células-tronco do paciente, armazená-las e depois usá-las para fazer osso, eliminamos completamente a necessidade de remover tecido ósseo de uma região doadora e promovemos o restabelecimento do osso da mesma forma”, diz a pesquisadora.

Embora o foco da pesquisa brasileira seja o tratamento do lábio leporino, essas células também poderão ser usadas para outros fins, como a criação de ossos para suporte de implantes dentários. Mas não se sabe se a técnica servirá para restaurar grandes fissuras ósseas.

Por enquanto, ela será usada apenas para pequenas reparações. “Ainda não testamos em animais a produção de ossos longos, mas é provável que se obtenha um bom resultado”, acredita Bueno.

Além de se transformarem em ossos, as células-tronco do músculo que contorna a boca têm potencial para originar tecidos musculares, cartilaginosos e adiposos.
A técnica brasileira já está patenteada e a perspectiva é a de que a terapia seja aplicada em humanos no Hospital das Clínicas de São Paulo. Para isso, só falta a aprovação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).


Sofia Moutinho - Ciência Hoje On-line